Monday 6 August 2012

Eliana na revista 'Carioca' - 1950



Eliana na capa da revista Carioca - 2 Novembro 1950.






A  'MISTERIOSA'  ELIANA

Eliana, a festejada estrêla do cinema brasileiro está rodando o seu terceiro filome, com o mesmo elenco de 'Carnaval no fogo'. Neste numero reportagem detalhada em torno da vida da jovem artista nacional. 

Eliana, a loirinha capixaba que Watson Macedo laçou no estrelato há menos de 3 anos, segundo informações que obtivemos de seus amigos. era uma criatura que nunca se definia. 

Muito misteriosa, geralmente triste, parecendo, por isso, encerrar uma grande tragédia em sua vida. E afirmava: não é simulação! Eliana sofre. É muito sensível, não resistindo, portanto, ao que lhe vai n' alma. 

Porém, fomos visitar Eliana em seu apartamento em Niterói-RJ, conversamos demoradamente com ela que, sem deixar transparecer a personalidade de Elza, mostrou que Helena é mais patente em sua vida, tão patente como poderia ser Elza se por acaso sua alma se sentisse envolvida por um grande e nobre sentimento: um amor.

Com tragédia ou não, Eliana demonstra ser uma criatura alegre, sem no entanto fugir a constantes momentos de introspecção. Quando seus olhos se lançam sobre um objetivo, o cérebro trabalha árduamente procurando deduzir, criticar ou julgar. 




Eliana & Grande Othelo em 'E o mundo se diverte' - 1948.

ELIANA  E  O  CINEMA

A vida artística de Eliana começou ha muito tempo; desde colegial que ela sabia que seria artista de cinema. Sendo sobrinha do diretor Watson Macedo, êste, quando Eliana ainda era uma criança, descobriu a sua veia artística, ficando convicto de que a então Eli Macedo poderia se tornar uma grande artista. 

Eli representava muito bem na escola: declamava e cantava musicas populares, predicados êsses que lhe valeram um contrato com a Radio Nacional. E Watson decidiu: ela será uma artista! Tempos depois, já moça, o titio diretor chamou-a e disse: - 'É chegado o momento!'

Tudo estava preparado, menos Eliana, que relutava, achando que seria dificil, além disso ela estava enamorada... quase noiva.

Tratava-se do filme 'E o mundo se diverte', produção de 1948, em que a jovem trabalhou, como até hoje, ao lado de Anselmo Duarte, que a artista reputa o melhor ator do cinema nacional. Assinou um contrato com a Atlântida e, depois das filmagens iniciais, sucedeu um imprevisto. Eliana foi ver-se na tela e quase chorou. Que decepção! Achava que o espêlho era mais fiel, teve desejos de desistir, mas já era tarde pois a companhia não quis rescindir o contrato nem perder o dinheiro empregado na pelicula. Contudo, essa má impressão desapareceu em 'Carnaval no fogo' de 1949, onde Eliana conheceu Francisco Carlos, que andou enamorado da artista. 

Aliás, Eliana é feliz nesse particular. Possui grande numero de admiradores, recebe propostas de casamento, sem que essas propostas exerçam qualquer influência sôbre seu espírito. Gosta de cinema e o coloca acima de tudo. Prova o que dizemos o seu noivado posterior à carreira artísta e que desapareu queimado pelas cinzas de 'Carnaval no fogo', queimado pelos ciúmes de um homem que não se conformava com os beijos artísticos do cinema, que apesar de tudo, não deixar de ser beijos...

O  TERCEIRO  FILME

Eliana está rodando, agora, a sua terceira película na Atlântida. Trata-se do carnavalesco 'Aviso aos navegantes'. Watson Macedo escolheu os mesmos atores que trabalharam em 'Carnaval no fogo', o maior sucesso do gênero comédia-musical feito no Brasil. Veremos nêle a simpática Adelaide Chiozzo e, provavelmente, Silvinha Chiozzo, a maravilhosa garota que promete deixar Adelaide no rastro. Esperemos, pois.

AS  PALAVRAS  DE  ELIANA

Passamos 3 horas em casa de Eliana, ao lado de sua mãe, uma senhora simpática e bondosa, que sabe também fazer café. Várias amigas de Eliana se encontravam no apartamento. Eliana, sempre alegre, contava-nos detalhes de sua vida, com uma discrição inacreditável. Geralmente os artistas, mesmo confidencialmente, fazem comentários sobre a arte e a personalidade dos amigos. Eliana, não. Provocávamos sua lingua, que talvez coçasse... mas Eliana não foge aos seus princípios, respeitando, o que é raro, a vida dos colegas.

Depois do cafézinho, Eliana fez algumas declarações. Incialmente desmentiu êsse mistério que paira em torno de seu nome. Depois, com naturalidade, afirmou que para ela não existe passado nem futuro. Não pretende se casar.

Pelo menos até o presente o seu principe não foi desencantado. Perguntamos: -  'E o futuro artístico?

- O futuro está nas mãos do futuro. Preocupo-me bastante com o dia de hoje. Amanhã é amanhã. Não se pode viver se se vive perdido em cogitações...

Apesar disso, notamos que Eliana estava evitando fumar por ter que cantar logo mais. Bem, ainda se tratava do presente. Mas, a dieta relativa da artista?...

Eliana, a garota realista e agradável não está comendo o bastante, à vontade, porque não quer engordar. Pesa 52 quilos e quer se agüentar nisso mesmo. Por acaso isso não é futuro?

Talvez não, porque o objetivo da moça é continuar com o presente pêso, cinqüenta e dois quilos. 


Revista Carioca  - 2 Novembro 1950.
reportagem: Vinicius Lima
fotos: Domingos Pereira  




Eliana e sua mãe no apartamento em Niterói-RJ.



Eliana e seu vira-lata favorito, encontrado numa rua de Niterói, junto a seu fiel aparelho de radio. Em 1950 ainda não existia televisão no Brasil. 

Sunday 5 August 2012

'Titio não é sopa' - 1960

3rd April 1960 - Atlântida's 'Titio não é sopa' opens in 17 movie houses in Rio de Janeiro-DF. 

Eliana, Procópio Ferreira, Herval Rossano e Ronaldo Lupo.
a filha adotiva entra no esquemão de Paulo (Herval) mais que depressa, para poder se apresentar como cantora na boite do namorado embrulhão.

Titio Não é Sopa - 1960

Procópio Ferreira (Gregorio)
Eliana Macedo (Verinha, enteada do titio, que herdará metade da fortuna)
Herval Rossano (Paulo de Almeida Rios, sobrinho herdeiro da outra metade da fortuna)
Ronaldo Lupo (Luiz, acaba se tornando mordomo-de-araque)
Nancy Montez (July, co-proprietária da boite 'Casablanca'; vigarista)

Zélia Guimarães (Isaltina, empregada da casa)
Afonso Stuart (Amaro, dono da casa, que acaba sendo cozinheiro-de-araque)
Delfim Gomes (pedreiro da obra da fabrica de biscoitos, 'disfarçada' de asilo)
Grace Moema (Emengarda)
Sônia Morais (Aurora)
José Policena (engenheiro da fábrica de biscoitos)

Rafael de Carvalho (Azevedo)
Paulo de Carvalho (Gaspar)
Grijó Sobrinho (o vizinho)
Angelito Mello (Paranhos)
Azelita Ivantes (Beatriz)
Luiz Mazzei (garçom)
Chiquinho (garçom)
Wilson Grey  (detetive contratado pelo tio)

Nancy Montez (Julie) e Herval são sócios da boite Casablanca. 

83 min.
Altântida Cinematográfica & Cinedistri
direção: Eurides Ramos
roteiro: Eurides Ramos e Victor Lima
música: Radamés Gnatalli e Vicente Paiva
produção: Oswaldo Massaini e Cinedistri
assistente de produção: João Macedo
coreografia: Helba Nogueira

Procópio Ferreira, Ronaldo Lupo e Afonso Stuart ... muita confusão.
Ronaldo Lupo, Herval Rossano e Nancy Montez... muita vigarice e confusão.
Verinha (Eliana) dá uma surra na Julí, numa das melhores cenas de briga feminina que já assisti no cinema nacional.

Com base na peça teatral "Titio não é sopa" (também conhecida como "Aí vem a Aurora", "Seu Gregório chegou", "Espírito de porco" e "Amigo da onça"), de Henrique Marques Fernandes.

Números musicais:

"Quero beijar-te as mãos" guarania (Arcênio de Carvalho e Lourival Faissal) com Anísio Silva

"Mamãe eu quero" fantasia (Jararaca - Arranjo de Vicente Paiva e José Calazans, com orquestração de Pachequinho) com Eliana Macedo

"Baiano burro nasce morto" (Waldeck Artur de Macedo) com Gordurinha e Mário Tupinambás.

Anísio Silva canta 'Quero beijar-te as mãos', o disco mais vendido de 1959.

Eliana, a filha adotiva, Herval Rossano, o sobrinho malandro, titio disfarçado de norte-americano, o sogro do Luiz [Ronaldo Lupo] e o próprio vigarista disfarçado de mordomo numa farsa das mais engraçadas.

Em 1959 o Brasil vivia quase que um sonho. Vivíamos a esperança do amanhã feliz, tendo ganhado a Copa do Mundo de Futebol em 1958, e nossa parada de sucesso sendo das mais interessantes do mundo. O cinema nacional vivia quase que um apogeu pré-cinema-novo. Eliana estrelava em mais uma comédia junto agora de Herval Rossano, o galã mais atraente do momento, tanto que foi amante de Bibi Ferreira, Sylvia Telles e muitas outras divas. Além de Herval tínhamos o Ronaldo Lupo, que não era de se jogar fora.

A farsa é das mais inconsequentes, mas com tudo para dar certo. Tio Gregória vem lá do interior visitar o sobrinho Paulo, com o qual ele deixou a incumbência de construir um abrigo para velhinhos. Paulo, que é pistonista, está de amores com July, uma vigarista da noite, e acaba comprando uma boite [Casablanca] com ela, onde ele próprio se apresenta todas as noites.

No final, o velho descobre toda a trama, finge-se de empresario norte-americano que quer comprar a boite. Justo nessa noite, sua querida enteada estréia no night club... e o número apresentado é, talvez, um dos mais bem elaborados do cinema nacional. Uma fantasia inspirada em 'Mamãe eu quero', de Jararaca, com um arranjo sensacional de Vicente Paiva e José Calazans, e orquestração do maestro Pachequinho. Eliana canta  ao lado de um clarinetista vindo direto de filme hollywoodiano; um pistonista dos mais eróticos, um contra-baixista que sabe mexer com suas cordas. Um número musical do mais sensual possivel... tudo alí exala testosterona misturado com a estrogerona da Eliana, numa saia mais mini que a da Mary Quant. O final do número mostra um Herval Rossano soprando um piston e querendo alcançar um climax, que mais parece um orgasmo... quando ele, enfim, consegue atingir a nota mais alta ... uma das moças desmaia. Não sei como esse número musical não se tornou um clássico instantâneo. Se fôssemos norte-americanos, certamente teria entrado para o hall dos clássicos eternos.

Herval sopra seu piston com alma...

apoteose musical feita com muita sensualidade...
a confusão final é hilária... as esposas de Luiz e Amaro mandam ver com pau de macarrão nas mãos