Sunday 17 February 2013

'Susana e o presidente' 1951

Vera Nunes fazia um mocinha não muito diferente de Deanna Durbin sans-le-voix.
'Suzana e o Presidente', produção de 1951, da Companhia Cinematográfica Maristela, com seus estúdios no bairro do Jacanã, em São Paulo. 

produção & direção: Ruggero Jacobbi
roteiro: Gino De Santis, Ruggero Jacobbi e Alfredo Palácios

Nota-se que os italianos predominavam na produção, além de aparecerem como atores (Otelo Zeloni quando ainda precisava ser dublado, pois não falava quase nada de português) e personagens (Arrelia faz um italiano com sotaque forte). 

Nitidamente feito seguindo os preceitos básicos de Hollywood, com uma mocinha simpática (Vera Nunes) calcada na imagem de Deanna Durbin; um herói atlético (Orlando Villar) que não deixa nada a dever aos melhores jogadores de rugby norte-americanos, inclusive com uma cena de chuveiro onde ele pode mostrar seu porte másculo. 

Politicamente incorretíssimo, a personagem Suzana, quando procurando emprego, levanta a barra da saia, acaricia as pernas e abre o zipper da frente, numa tentativa de mostrar os seios para o futuro empregador. Tal comportamento só seria justificado em filmes pornográficos nos dias de hoje.
17 July 1951 - Tuesday - Correio Paulistano announces 'Suzana e o Presidente' for Thursday, 19 July 1951
Orlando Villar, o presidente, mostrando seu physique em cena de chuveiro.

Vera Nunes (Suzana)
Orlando Villar (Roberto)
Arrelia
Jaime Barcelos
Leônidas da Silva
Luciano Gregory
Otelo Zeloni
Leila Parisi
Armando Couto
Diná Lisboa
Xandó Batista
Zilá Maria
Benedito Corsi
Margot Bittencourt
Elisio de Albuquerque


'Batei e abrir-se-vos-á!'
Leonidas da Silva, o famoso jogador de futebol faz papel dele mesmo... A presença dele no filme é quase que injustificada. Leonidas, na verdade 'descola' um emprêgo na firma, mas 'mata hora', lendo jornal com os pés apoiados na escrivaninha. Comportamento não muito ético para os dias de hoje. 
Vera Nunes lembra Jean Arthur e Otelo Zeloni de cabelos. Zeloni é dublado no produto final.
Arrelia faz um italiano que canta tenor e soprano nos finais de semana... O número não convence. Logo em seguida um conjunto de chorinho acompanha uma cantora de voz agradável.
Vera Nunes & Orlando Villar. 
'Presença de Anita' directed by Italian director Ruggero Jacobbi in 1951, was Maristela Cinematography's very first production starring Vera Nunes & Orlando Villar. with Ruggero in the middle, giving them direction...
Maristela não era MGM e o Jacanã não era Hollywood, mas fazia o que podia para emular os yankees.
 Jaçanã studios working at full throtle...
factory of illusion... Jaçanã, São Paulo, 1951.

Monday 11 February 2013

'Vou te contá...' 1958

O enredo de 'Vou te contá...' passa quase todo dentro de uma boite em tempo de carnaval. Bonitão, vivido pelo excelente Milton Ribeiro, que ficou famoso como homem-mau em 'O Cangaceiro' (1953) - manda e desmanda no pedaço. Ele quer namorar a cantora da boite (Cinderela), e sequestra o filhinho dela para dissuadí-la a se unir a ele. O sequestro acaba dando errado, e a criança vai parar nas mãos de dona Gaby (Luely Figueiró) jovem senhora do society que encontra o bebê abandonado numa praça de São Paulo, e acaba ficando com ele.

Pagano Sobrinho é Dondóca, jornalista fofoqueiro que está na pista de um outro seqüestro, o do filho do Rei do Prego, rico industrial. O herdeiro do industrial é mantido por Consuelo, uma velha espanhola da confiança de Bonitão. Os capangas do bandido são hilários, pois muito desfuncionais. Bonitão, além de sequestrador de crianças é falsário de whiskey.  

Dona Gaby passa o bebê raptado da cantora para o personagem de Maria Vidal, que leva-o para sua casa, mas briga com o marido-ascensorista, pois esse pensa que o filho é dela. A problemática do filme é que ninguém quer ser 'corno'. Maria Vidal devolve a criança à Luely, cujo marido ciumento (Francisco Negrão) havia se ausentado por 6 meses e começa a desconfiar que sua mulher teve um caso extra-marital durante sua ausência. Vai aí um bocado de erros de continuação, pois não daria para ela ter transado com um amante, ter parido uma criança e ainda estar esbelta daquele jeito. Mas em chanchada tudo é possível, inclusive a presença de Dorinha Duval pintada de negra, fazendo a empregada da Luely e namorada de Chocolate.

Chocolate faz, talvez, o melhor papel do filme, desbancando Pagano Sobrinho, que fica com cenas bem chinfrins.

O melhor do filme está justamente nos números musicais e rapidas aparições do carnaval de rua de São Paulo nos idos 1958. Há alguns enfoques direto da antiga Favela do Canindé, famosa por ter sido o lugar onde se passa o enredo de 'Quarto de Despejo, de Carolina Maria de Jesus e o trânsito de bondes elétricos numa São Paulo glamourosa que não existe mais. 

Luely Figueiró é a melhor presença feminina. Cinderela mostra suas pernas e suas famosas curvas, mas não convence como mãe do bebê ou viúva de algum malandro que já foi dessa p'r'uma melhor. Cinderela canta um número carnavalesco, 'Batatinha quando nasce... esparrama pelo chão, menininha quando dorme põe a mão no coração'... Pela letra já se nota que é lixo-total do Antonio Borba, cujas composições carnavalescas não sobreviviam dois dias depois dos folguêdos de Mômo! 

Francisco Egydio mostra toda sua elegância em um 'smoking' e gravata borboleta. Risadinha dança com um corpo de bailado e mostra que saber rir em rítmo e métrica certa. Isaurinha Garcia, portando um vestido de gala, com luvas até os cotovelos, não faz muito sentido entre cabrochas da escola de samba do Herivelto Martins. Já Virgina Lane aparece duas vêzes, sendo que da 2a. ela tenta bisar 'Sassaricando' com  'Mão de gato', uma marchinha sobre felinos... miau!

Carmen Costa arrasa com a 'Marcha da banana' uma paródia de 'Day-O' do Harry Belafonte. A letra diz: 'Eu não sou macaco mas eu gosto de banana, eh eh eh, eh eh ah... Eu não sou moenda mas eu gosto de uma cana, deixa quem quiser falar'...

Os Demônios da Garôa cantam sobre o 'Harem do baiano', marcha que fala de Maomé. Nos dias de hoje o compositor iria pensar 2 vezes antes de tomar 'seu santo nome em vão'... com perigo de ter uma 'fatwa' em cima de sua cabeça. 

Ronaldo Golias, que estava começando a ficar famoso em 1958, apresenta um numero não muito convincente. Jorge Veiga já cantou coisas melhores... e Dalva de Oliveira canta sobre as belezas do Rio de Janeiro num filme feito em São Paulo.

12 February 1958 - Maristela's last production 'Vou te contá...' premiered at Cine Marabá just in time for the Carnaval holidays...

Pagano Sobrinho (Dondoca)
Milton Ribeiro (Bonitão)
Chocolate (Chocolate)
Luely Figueiró (dona Gaby)
Cinderela (cantora de boite)
Francisco Negrão (Cesar, marido de Gaby)
Dorinha Duval (Rosa, empregada de Gaby)
Maria Vidal (Marta)

Caetano Gerardi
Neide Pavani
Osvaldo de Souza
Júlio Ramler
Doca
José Mercaldi
Luiz Campos
Ary Fernandes
Carlos Miranda


Risadinha canta 'Alegria de palhaço'... ah ah ah, destacando uma bailarina japonêsa (provavelmente do bairro da Liberdade) ...

Números musicais

Cinderela 'Batatinha quando nasce' (Alfredo Borba-Doca)
João Dias 'Engole ele, paletó' (J. Audi)
Nilton Paz 'Juventude transviada'
Ronald Golias 'Minha bandolinha'
Carmen Costa 'Marcha da banana'
Dalva de Oliveira 'Quem não conhece o Rio'
Risadinha 'Alegria de palhaço'
Francisco Egydio 'Quem é que não chora?'
Demônios da Garoa 'Harém do Maomé'
Jorge Veiga 'Telefonando'
Isaurinha Garcia
Virgínia Lane 'A mamãe vem aí' e 'Mão de gato'

Herivelto Martins e sua escola de samba
Henricão e sua escola de samba
Cid P. de Barros e seu ballet


Os Demônios da Garôa cantam 'Harém do baiano'. 

'Vou Te Contá' - 1958

94 min.
Distribuição: Colúmbia Filmes
Direção: Alfredo Palácios
Assistente de direção: Glauco Mirko Laurelli
Roteiro: Cláudio Petráglia e Glauco Mirko Laurelli
Argumento: Alfredo Palácios
baseado na peça teatral 'O filho do rei do prego', de Gastão Tojeiro
Produção: Mário Marinho e Alfredo Palácios

Direção de produção: Ary Fernandes
Gerente de produção: Sérgio Ricci
Co-produção: Cinematográfica Maristela
Música: Luiz Arruda Paes
Sonografia: Jacques Lesgards
Assistente de Som: Konstantin Tkaczenko
Fotografia: Rudolph Icsey
Câmera: Adolfo Paz Gonzalez
Assistente de câmera: Osvaldo de Oliveira
Cenografia: José Pereira da Silva
Montagem: Maria Guadalupe
Assistente de Montagem: Huguete Lesgards

Último filme da Maristela, rodado em 25 dias.

Segundo Mário Audrá Júnior: "Como eu estive na Espanha durante quase toda a rodagem deste filme, Palácios, além de dirigi- lo, também foi praticamente o produtor executivo. O título tornou-se expressão popular e fixou-se de tal maneira que incrivelmente perdura até os dias de hoje".

PAGANO SOBRINHO - pequena biografia 

Fioravanti Pagano Sobrinho nasceu em São Paulo-SP em 11 Novembro 1911 (11-11-11). Cursou o Colégio São Luiz. Trabalhou como radio-ator e tornou-se um dos maiores humorístas do país. Seu humor era leve, sofisticado e 'camp' (quando essa expressão ainda não existia). Apareceu em 'A estrada' (1955) da Mayra Filmes, 'Casei-me com um Xavante' (1957), 'Chuva de estrêlas' e 'Noites em Copacabana', além desse 'Vou te contá...', a última produção da Companhia Maristela, situada no bairro do Jacanã em São Paulo.

Muitas vêzes, o humor que Pagano desenvolveu no radio, não era bem 'transportado' para o cinema ou TV. Em 'Vou te contá...' o diretor aproveita Pagano em uma cena onde ele fala ao telefone, para, na verdade fazer o humor que ele fazia no radio. Infelizmente a cena fica 'morta', já que cinema não é radio.

Nos anos 1960, Pagano se associa à Maria Tereza, a Terezóca, fazendo sketches engraçadíssimos na Radio Excelsior e Nacional. Ambos tinham muita sofisticação e sabiam explorar o lado 'leve' e 'camp' do humor. 

Em 1962 morava na Rua Barão de Limeira, 118 , apto 34 - fone: 36-6171


Final típico das comédias-musicais tanto cariocas quanto paulistas: muita confusão e pancadaria dentro de uma boite, vendo-se em 1o. plano o bandido Bonitão (Milton Ribeiro) agredindo Chocolate enquanto a Guarda-Civil tenta impôr alguma ordem no precinto. Lá no fundo, nota-se Cinderela segurando a valise com o dinheiro do resgate do bebê do 'Rei do Prego', que no final é compartilhado por todos. Happy End!

Chocolate MCs a 'Cestas de Natal Amaral' programme at TV Record in 1958